Elevação dos preços de equipamentos FV deve ser um dos principais desafios para o setor no ano que vem
Descompasso entre demanda e disponibilidade de insumos, alta do custo do frete e elevação dos preços de equipamentos fotovoltaicos. Estes devem ser os principais desafios para o mercado solar em 2022.
Imagem:DIvulgação
Estes obstáculos têm como cerne a retomada da cadeia produtiva internacional e a crise energética da China, principal fornecedor do setor fotovoltaico brasileiro e mundial.
Ao longo de 2021, o país registrou diversos apagões que não só deixaram milhares de chineses sem energia, como também atrasaram a capacidade fabril das indústrias chinesas.
Segundo especialistas ouvidos pelo Canal Solar, este cenário deve permanecer para o ano que vem.
Isso porque o presidente chinês, Xi Jinping, estabeleceu a meta de tornar neutras até 2060 as emissões de carbono do país.
Para isso, o governo chinês sinalizou que buscará aumentar a capacidade solar e eólica para cerca de 1.2 TW até 2030 (atualmente o país conta com cerca de 253,8 GW), o que fará com que a maior parte dos equipamentos fabricados seja destinada ao mercado interno.
Maior emissora mundial de gases de efeito estufa, a China também formalizou o compromisso de aumentar a participação de combustíveis não fósseis em seu consumo de energia primária para 25% até 2030, maior do que a promessa anterior de 20%, e aumentar a capacidade de energia eólica e solar a mais de 1.200 gigawatts.
Essa situação deve contribuir para a diminuição de equipamentos para outros mercados, principalmente o brasileiro.
Além disso, outros países também afirmaram compromissos durante a COP26 para a redução de emissão de carbono, o que deve elevar ainda mais a procura por equipamentos de geração de energias renováveis.
Disponibilidade de equipamentos
O especialista em negócios Wladimir Janousek, diretor-executivo da JCS Consultoria e Serviços, explica que a instabilidade nas cadeias de fornecimento e seus componentes deve se manter durante o 1º semestre de 2022.
“Em 2022, a maior limitação para suportar a continuidade e a ampliação do uso da fonte solar fotovoltaica se dará pela falta de disponibilidade de produtos, sendo esse o principal desafio para o controle das importações e o fornecimento de módulos solares para o mercado brasileiro”, considera.
Foto: Envato Elements
Por este motivo, Bruno Catta Preta, diretor da Genyx, enfatiza que o planejamento será fundamental para enfrentar estes desafios.
“Fatores como o aumento no preço do frete internacional, escassez de equipamentos e mudança em tamanhos e potências dos módulos devem ser devidamente analisados.
Quando o planejamento leva em conta esses aspectos, esses desafios podem ser superados”, afirma.
“Estamos em dezembro de 2021, mas com as compras para 2022 já planejadas com nossos fornecedores.
Nesse momento, um volume representativo de equipamentos já se encontra em trânsito marítimo.
Outra grandiosa quantidade está em produção pelos fabricantes. Como o percurso China-Brasil leva em média 45 dias, um planejamento excelente de compras faz-se mandatório neste mercado”, acrescenta.
Segundo o advogado Pedro Dante, sócio da área de energia e infraestrutura do Lefosse Advogados, outro desafio será cumprir com prazos de entrega, o que deve refletir no desenvolvimento de projetos.
“Com o aumento dos preços dos painéis solares, fretes internacionais e dependência do mercado chinês, é provável que a capacidade de construção seja afetada e grandes litígios tenham início para a alocação de responsabilidades e custos financeiros”, avalia.
Legislação e cenário político
Bernardo Marangon, especialista em mercados de energia elétrica e diretor da Exata Energia, avalia que “a demanda provavelmente aumentará por conta de vários projetos que estão sendo feitos no Brasil, ainda mais com o objetivo de aproveitar a regra atual, que deve vir por meio do PL 5829“.
Foto: Monclair Araujo
Ele enfatiza que os profissionais devem estar atentos aos passos que estão sendo dados após a aprovação do Marco Legal da GD, além do cenário político.
“Teremos a discussão com a ANEEL em relação aos benefícios que a geração distribuída traz para o setor elétrico. Provavelmente será uma discussão bastante acalorada, como sempre tem sido, e será fundamental ter essas regras para sabermos se a GD continuará sendo competitiva ou não, principalmente no segmento de geração compartilhada e autoconsumo remoto”, analisa.
“Ademais, estaremos em um ano de eleição. Então, a parte econômica ficará turbulenta aqui no Brasil. Com isso, o câmbio deve ter oscilações grandes.
Hoje já vivemos isso e a tendência é que a situação piore no ano que vem”, acrescenta.
Para Ricardo Valle, CEO da Port Trade Energy, “falar de 2022 no segmento solar, nos chama a reflexões, por ser um ano de eleições, novas cepas do coronavírus e suas consequências”, afirma.
Apesar do cenário desafiador, o especialista é otimista em relação ao futuro. “Apesar da flutuação da moeda, a projeção é que a linha de supply chain mundial tende a estabilizar no quarto trimestre de 2022.
Alia-se a este cenário ainda a necessidade de maior clareza de como a China conduzirá os desafios de atenuar a crise de energia que enfrenta, para tomar ações que diminuam a emissão de gases sem que, necessariamente, não tenha que direcionar parte da sua produção ao mercado interno”, avalia.
Mercado mais competitivo
A conta de energia, impulsionada pela manutenção da bandeira tarifária Escassez Hídrica até abril de 2022, também deve continuar pesando no bolso do consumidor brasileiro. Este cenário é favorável para as empresas integradoras.
“Entendo que o mercado solar continuará em forte crescimento no ano de 2022 em razão das janelas de oportunidade no Mercado Livre e na geração distribuída, especialmente em virtude do aumento do custo de energia no Mercado Cativo (ACR) com a pandemia e a crise hídrica que enfrentamos”, destaca Dante.
Com um mercado aquecido, o número de empresas que entram no setor fotovoltaico só tende a aumentar, já que cada vez mais consumidores têm buscado obter economia com a instalação de sistemas fotovoltaicos em suas casas.
Essa situação trará um desafio positivo para o mercado: as empresas terão que se capacitar e melhorar seus serviços para continuar a ser competitivas.
“2021 foi um ano incrível para a geração distribuída no Brasil e certamente 2022 será um ano muito melhor, visto a quantidade de linhas de financiamento disponíveis para os clientes finais e também a organização do setor que a cada ano tem melhorado”, destaca Gustavo Tegon, sócio-fundador da Esfera Solar.
XViabilidade de projetos e CAPE
“Em 2022 teremos muitos projetos de geração compartilhada e os desenvolvedores e investidores vão ter um desafio para fechar a energia destes projetos”, aponta o diretor da Exata Energia.
“A parte de comercialização é a nova fronteira a ser transpassada pelos desenvolvedores de projetos que querem geração compartilhada.
Será um ano bem competitivo e bastante interessante para o consumidor, que terá acesso a essa opção de ter uma economia na sua conta”, analisa.
Marangon ainda destaca que no segmento de GC (geração centralizada), o CAPEX (custo de construção das usinas), que tem sido o principal elemento de viabilidade dos projetos, vai permanecer volátil.
Ademais, avalia que a oferta e a demanda de energia elétrica e o preço de longo prazo devem ser pautas que devem movimentar discussões em 2022.
“Vejo um choque de realidade: o consumidor querendo um preço de longo prazo mais baixo e o gerador precisando de um preço de longo prazo mais alto para que os projetos sejam viáveis nesta nova ótica de CAPEX.
Mas acredito que se os consumidores perceberem que estão comprando energia nova e que quando compramos energia nova é preciso ter certeza de que os projetos serão construídos, eles vão entender que os preços mais baixos não existem mais”, considera.
Outro fator relevante para quem atua no segmento de GC é que em março de 2022 termina o prazo para pedidos de outorga de projetos renováveis que ainda quiserem ter o benefício da energia incentivada.
“O desenvolvedor tem até este prazo para solicitar a outorga e garantir este benefício. Então, será um desafio para os desenvolvedores no Q1 [1º trimestre], porque se não conseguirem provavelmente estes projetos ficarão de molho por um tempo, já este benefício é realmente importante para as renováveis”, esclarece Marangon.
O especialista ainda estima que o 5G vai ser um tema bastante explorado em 2022. “Provavelmente, teremos leilões das empresas de telecomunicações em função do 5G, que ampliará bastante o consumo de energia elétrica por essas companhias e pode ser que elas queiram aproveitar essa última janela para fechar novos projetos”, opina.
Tecnologia 5G deve ser um tema bastante explorado em 2022. Foto: Envato Elements
Fonte: Canal Solar
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